domingo, 17 de dezembro de 2006

"Livro de Horas"

"Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.

Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais,
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.

Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
e o das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser um anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser um monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui diante de mim!"

Miguel Torga, in O Outro Livro de Job

Perfil

Perfil

"Não. Não tenho limites.
Quero de tudo
Tudo.
O ramo que sacudo
Fica varejado.
Já nascido em pecado,
Todos os meus pecados são mortais.
Todos tão naturais
À minha condição,
Que quando, por excepção,
Os não pratico
É que me mortifico.
Alma perdida
Antes de se perder,
Sou uma fome incontida
De viver.
E o que redime a vida
É ela não caber
Em nenhuma medida."

Miguel Torga, in Diário XIII

Veneno com Veneno

"- A mentira (...) é uma opção. Consiste numa contextualização arbitrária e consciente, com um objectivo. Enquanto a verdade é abertura e cria vulnerabilidade, a mentira é controlo, equacionamento e protecção, bem como risco calculado.
Falar verdade é fácil. Não exige mestria nem sabedoria. É básico. Mentir, por seu lado, é um exercício que apela ao balanço, cálculo, avaliação, arte, desenvoltura, representação, mímica, memória, raciocínio, sentido de plausibilidade. É um jogo exigente que obriga ao nosso melhor, pois, se não for ganho, o resultado é a desgraça ou o descrédito do indivíduo.
Ter consciência das implicações da mentira leva-nos a controlar o comportamento e a direccionar os objectivos. A deliberada denúncia de uma mentira é, por parte do jogador exímio, uma atitude falsa, que resulta numa vitória e num caminho para uma jogada maior. A consciência da existência de uma relativa capacidade de observação do interlocutor leva o mentiroso a um refinamento do seu comportamento, surtindo, quando capaz, um efeito mais profundo. Qui s'excuse s' accuse só funciona entre níveis de jogadores diferentes, entre percepções díspares. eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes ... leva a um esgrimir inconsequente e interminável, que só poderá encontrar resolução se, ao longo do percurso, houver um deslize ou uma incauta denúncia. de outra forma, as regras que definem o mentiroso e as regras a que o mentiroso recorre só servirão para tornar a acção nula, porquanto ambos os interlocutores dominam as técnicas.
O elemento que permite desequilibrar o combate de mentiras é a introdução de verdades, ou meias verdades, devidamente doseadas e calculadas.O jogo passa a ter, então, uma complexidade tal que nem mesmo um interlocutor esclarecido sobre as técnicas da mentira consegue detectar com facilidade o grau de mentira.
Uma mentira pode, então, tornar-se numa verdade."
Sérgio Lorré, Veneno com Veneno

"Princesa" Sofia


Esta semana estive ausente dos meus problemas...ocupada com a minha "princesa" Sofia, que preencheu os dias sem sentido da tia babada e cansada da vida, que "passou" pelos dias sem pensar em si, mas sim na magia de ser criança .
Queria aqui deixar um louvor à Biblioteca Municipal de Beja pelo carinho com que sempre nos recebem e pelo "espaço".
E quando falo em espaço, eu leitora compulsiva assumida, não me refiro só ao sector de leitura, abarco todo o edifício.
Hoje aproveito para salientar o local que mais frequentei durante a semana: a Bebéteca- um refúgio onde os sonhos das crianças podem acontecer e onde pais, tias e restante família conseguem voltar a sorrir, longe do bulício do quotidiano e voltar a sentir a ingenuidade e a alegria de viver das crianças.

Coragem




Há dias em que a alma me sorri...
Dias raros de sorte,
Em que esqueço o pesadelo que vivi
e sonho que não volte.
Momentos de força em que tenho coragem
Para sair deste abismo,
Em que me animo e pinto com a voragem
Com que noutros dias choro e cismo.

domingo, 10 de dezembro de 2006

O Prometido é Devido....

Aqui está, através do mail que me enviou a minha Laura, a letra da música que o meu 9º D me dedicou e que prometi postar logo que tivesse a letra:

Ela triste estava e nós não ajudamos
Estamos arrependidos, mas agora já é tarde
Esta música é para a prof. nos perdoar
Já é dia, já é hora de voltar

Aqui ao pé do 9ºD (9ºD) só a prof. fica só ela pode ficar! (bis)

Vamos acabar
porque temos beijos para dar
Aqui ao pé do 9ºD, ao pé de nós, só a prof. fica, só ela pode ficar!
nanana..na
nanana..na só a prof. fica, só ela pode ficar





Aproveito também para voltar a agradecer e, ainda, para postar as palavras de encorajamento que ela me enviou:

"(A música pode ser simples, mas tivemos muito carinho em faze-la)
Melhore depressa que temos saudades suas! =P
Beijinhos grandes Laura*

P.S.: "Nenhum caminho é longo demais quando um amigo nos acompanha." Lembre-se que tem aqui cerca de 25 amigos sempre dispostos a ajuda-la ;)
Muita força para ultrapassar esta crise =) "

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

9º D(ELICIOSO)

Hoje tive uma surpresa boa, muito boa mesma.
Quando cheguei a casa tinha a maior parte dos meus alunos do 9º D à minha espera.
Foi um momento tocante, que me emocionou, mas que me encantou e enlevou "nas asas dum sonho" de recuperação.
Fizeram-me uma serenata, com base numa música dos Xutos e Pontapés, um dos meus grupos portugueses preferidos, a letra como é obvio estava adaptada a mim e a eles, enquanto professora e turma.
Quando tiver o poema que eles reescreveram posto-o aqui, logo, juro.
Este post é a minha singela homenagem ao gesto de altruísmo e amor com que me brindaram.
Um enorme obrigada do fundo do coração e a promessa que vou tentar recuperar o mais cedo possível, para voltar para junto deles...

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Exposição de pintura da Lena Baltazar e Antónia Gouveia



































Hoje foi um dia diferente, apesar de andar completamente metida na minha
concha, em reclusão completa, não pude resistir aos convites pessoais de duas
amigas, a quem muito quero e que têm um lugar reservado no meu coração.

Deixo aqui uma breve mostra, da exposição que estará, na pousada, até dia 10
e que incito todos os que gostam de pintura e expressão sensorial a visitá-la
e quiçá a adquirir uma prenda de Natal diferente.
Eu não me importaria nada de receber qualquer um deles (alguns mais do que
outros, como é óbvio) no "sapatinho".

Eu gostei muito, aliás abriu-me o apetite para também regressar aos pincéis
e às telas, embeber-me de cor e pintar o que me vai na alma, é uma forma
de me alienar do que me rodeia e me cerceia, ir para além de mim, imbuir-me
de sentimentos e sensações, numa sinestesia total. Abstrair-me de tudo e todos.