terça-feira, 17 de outubro de 2006

"A vida secreta das palavras"

... Silêncio, Dor, Poesia, História, Amor, Guerra, Esperança...

Há meses que estava para ir ver o filme"A vida secreta das palavras", título, com que secretamente fiquei obcecada, mas por um motivo ou outro lá ia adiando...
Ontem fui, finalmente, vê-lo, sob grande expectativa. O filme narra-nos uma história sobre o poder do amor, mas sem a mediocridade de um argumento delico-doce.
É realizado pela espanhola Isabel Coixet e conta com a actuação sobriamente magistral de Tim Robbins e Sarah Polley nos principais papéis. O filme é um grito poético contra a dor, a culpa, os traumas e a guerra, mostrando que a esperança não morre.
Numa plataforma petrolífera no mar, onde só trabalham homens, imersos na solidão e isolados pelo mar, acontece um acidente. Hanna, também ela dolorosamente solitária, oferece-se como enfermeira para cuidar de um trabalhador da plataforma que ficou temporariamente cego, Josef (magistral interpretação de Tim Robbins), com queimaduras múltiplas e a dor de uma culpa que o mortifica.
Dá-se início a uma intimidade profunda, a uma empatia, traduzida na troca de segredos, de um arrancar de confissões que os vai manter unidos pelas histórias que partilham: a dor de certas escolhas na vida e os traumas de guerra. A vida secreta das palavras leva-os a sussurrar um passado que querem esquecer e um futuro que desejam e essa será a marca inefável dos sentimentos que pairam no que se diz e no que se omite. Entre estes dois sobreviventes de dores secretamente interiorizadas vai estabelecer-se uma troca de sentimentos, sem que qualquer um deles se revele completamente. Dor, solidão, obscuridade, silêncio, amor, lágrimas, esperança são os vocábulos que preenchem esta história, onde ainda há espaço para falar do “súbito silêncio que se produz antes de uma tempestade”, “de vinte e cinco milhões de ondas” e retratar, em pungentes pinceladas, os retratos de quem vive e trabalha numa plataforma no meio do mar, onde o rumor das ondas assinala “um tempo sem tempo”, cenário ideal para um universo de isolamento, tristeza, fingimento e depressão, onde se trocam afectos para ludibriar a solidão.
O filme é um poema cruel e realístico, onde somos levados a entrar no torturado mundo interior de uma mulher que foi submetida a tortura e violação, durante a “guerra” da Jugoslávia. As palavras constituem a razão de ser para continuar a viver, para revelar escondidas dores, sentidas à flor da pele.
No filme tenta-se mostrar que é possível partilhar numa catarse dolorosa a solidão de (sobre) viver. Tim Robbins, numa das mensagens verbais que mais me tocou, ou não fosse eu uma melancólica alma, promete a Hanna "aprender a nadar" para os manter à tona, nos dias em que as lágrimas dela os inundarem.
Segundo a realizadora, é um filme: "sobre o silêncio repentino que antecede uma tempestade, e acima de tudo, sobre o poder do amor, mesmo nas mais terríveis circunstâncias".
É um filme que vou rever....

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