quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Viver

A vida raramente nos traz o que pretendemos, ou sonhámos...

Continuamente nada tem a ver com o que almejámos.

Mas viver é mesmo isso...

Subir montanhas, nas quais escorregamos a meio

e recomeçar a subi-las, sabendo disso.

Encerrar no mais profundo o que temos de feio....

E, ironicamente, pensar que temos o dom da razão,

Quando nos dizem que não.

Lutar contra julgamentos

Esconder os sentimentos

Fugir de chantagens

Num viver onde não vemos as vantagens.

Aguentar, superar o pudor da dor.

Mergulhar em pinceladas de cor.

Gritar contra todos

Chorar a rodos

Avançar cada dia um passo

Sem ter medo que este seja dado em falso...

Sorrir por entre lágrimas

Só para superar as lástimas

De quem finge perceber

O que nunca conseguirá saber.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

"As Velas Ardem Até Ao Fim"

"-Cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. Odestino entra pela porta que nós mesmos abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter."

Sándor Márai, As Velas Ardem Até Ao Fim

"Send me an Angel...."



Mais um poema memorável, numa música que me aquece a alma...

Send Me An Angel

The wise man said just walk this way
To the dawn of the light
The wind will blow into your face
As the years pass you by
Hear this voice from deep inside
It's the call of your heart
Close your eyes and you will find
The way out of the dark

Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star

The wise man said just find your place
In the eye of the storm
Seek the roses along the way
Just beware of the thorns

Here I am
Will you send me an angel
Here i am
In the land of the morning star

The wise man said just raise your hand
And reach out for the spell
Find the door to the promised land
Just believe in yourself
Hear this voice from deep inside
It's the call of your heart
Close your eyes and you will find
The way out of the dark

Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star
Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star


Scorpions

domingo, 26 de novembro de 2006

Perdida dentro de mim



Ontem dei por mim perdida dentro de mim.
Enrolada na cama como um bichinho de conta.
Fitando o branco do armário à minha frente....
Nem sei contabilizar os minutos em que estive assim:
Alheia a tudo e todos,
Fechada dentro de mim,
Vogando num mar de pensamentos,
Que se alternavam aleatoriamente sem que eu tivesse
forças para inverter essa maré de recordações,
em que mergulhava, sufocando lentamente.
E ali estava eu, estática, sem forças paraa me mexer,
sem conseguir alterar o rumo dos pensamentos...
Imersa num mar de dor,
de raiva pelos enganos em que fui caíndo ao longo da vida,
de tristeza pelos erros que cometi,
de saudade dos amigos de quem me fui afastando...
Lembrei-me de familiares que há tanto partiram,
de episódios em que a injustiça venceu,
de sonhos que pereceram sem verem a cor dos dias...
Dei por mim perdida...
Tentei mexer-me e não podia,
as lágrimas rolavam-me pelo rosto
e nem as conseguia limpar.
Sentia tudo, mas o meu corpo
estava inerte, inútil, frágil.
E, em silêncio, reminescências de momentos passados,
embrulhavam-se nos actuais,
numa rede de teias, mentiras, falsidade, saudade e dor.
Sempre a dor, a dor de não ter sabido ver.
A dor de não ter percebido...
A dor de ter tentado não ver...
A dor de ter errado.
A dor de ter fingido que tudo estava bem...
A dor de esconder a dor que me consomia lentamente.
Momentaneamente a escuridão pegou-se à minha pele
como um manto, uma mortalha que me silenciava.
Foi aí que, da minha garganta soltou-se um gemido.
E lentamente recobrei a consciência do que me rodeava...
A cama, o armário branco, as faces húmidas,
o sal das lágrimas...
Fui voltando a mim, ao meu corpo que antes não sentia.
Ah, a sensação de regressar de uma viagem para além de mim,
para além da consciência, para além do peso dos membros,
para além do meu corpo.
A pouco e pouco voltei a ouvir os sons que me rodeavam,
o cheiro da minha pele
o calor da minha respiração...
Mexi um dedo,outro e mais outro...
Olhei espantada para as minhas mãos
Como se as visse pela primeira vez.
Como se nem as reconhecesse,
Numa sinestesia de sons, cores e movimentos
que me martelavam o cérebro, devolvendo-me ao momento presente.
A um presente de luta,
A um presente de revolta,
De volta à vida?

sábado, 25 de novembro de 2006

"Sempre ausente"

Sempre gostei de António Variações:
pela ousadia de ser diferente, pela coragem
de enfrentar uma sociedade alicerçada em preconceitos,
por ser quem era sem se preocupar com rótulos limitadores....
De entre as suas músicas, esta toca-me particularmente:

Sempre ausente

Diz-me que solidão é essa
que te põe a falar sozinho
diz-me que conversa
estás a ter contigo

Diz-me que desprezo é esse
que não olhas p'ra quem quer que seja
ou pensas que não existe
ninguém que te veja

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos

uh-uh-uh-uh-uh-uh
uh-uh-uh-uh-uh-uh

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente

mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar

diz-me que loucura é essa
que te veste de fantasia
diz-me que te liberta
de vida vazia


diz-me que distância é essa
que levas no teu olhar
que ânsia e que pressa
que queres alcançar

que viagem é essa
que te diriges em todos os sentidos
andas em busca dos sonhos perdidos


uh-uh-uh-uh-uh-uh-uh
uh-uh-uh-uh-uh-uh-uh

lá vai o maluco
lá vai o demente
lá vai ele a passar
assim te chama toda essa gente


mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
mas eu estou sempre ausente e não me conseguem alcançar
não me conseguem alcançar
não me conseguem alcançar
não me conseguem alcançar


António Variações

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Estou farta!

Estou farta
Cansei-me
estou farta que se metam na minha vida
que se intromentam sem serem convidados
que dêem palpites, sugestões, conselhos...
tudo em "prol do meu suposto bem"....
Hipócritas, fingidos, actores de improviso.
Quero que desapareçam
Que me esqueçam
que me deixem viver a minha vida à minha maneira,
"Sempre sempre à minha maneira"!
A partir de agora já nem finjo ouvir por educação.
A educação que vá pelos ares, que se volatize.
Se errar e cair, levanto-me, lambo as feridas e volto a tentar.
Sou "fera ferida, no corpo, na alma e no coração",
mas sou eu que faço as minhas escolhas,
que tomo as minhas decisões.
Como sempre fiz e farei.

domingo, 19 de novembro de 2006

"Eis-me..."



Eis-me

Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente


Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto (1962)

"Because Of You"



Mais uma música em que me apaixonei pelo poema....

Because of you

I will not make the same mistakes that you did
I will not let myself cause my heart so much misery
I will not break the way you did
You fell so hard
I've learned the hard way, to never let it get that far

Because of you
I never stray too far from the sidewalk
Because of you
I learned to play on the safe side
So I don't get hurt
Because of you
I find it hard to trust
Not only me, but everyone around me
Because of you
I am afraid

I lose my way
And it's not too long before you point it out
I cannot cry
Because I know that's weakness in your eyes
I'm forced to fake a smile, a laugh
Every day of my life
My heart can't possibly break
When it wasn't even whole to start with
(...)
Because of you
I never stray too far from the sidewalk
Because of you
I learned to play on the safe side
So I don't get hurt
Because of you
I tried my hardest just to forget everything
Because of you
I don't know how to let anyone else in
Because of you
I'm ashamed of my life because it's empty
Because of you
I am afraid


(Composição: Kelly Clarkson, David Hodges e Ben Moody)

"Changes"



Como sempre oiço uma música, "escutando" o poema antes de tudo...não resisti a excertos desta....

Changes

Não vou lamentar, o que passou passou
Eu vou embora, meu tempo acabou
Tenho muita coisa para descobrir
Eu sinto muito mas tenho que ir
Vou indo porque nada mais me prende aqui
É o final do show
E não fique magoado porque vou partir
É só o jeito que eu sou
(...)
Livre eu me sinto, sublime
Gente mais gente
O mar e o céu azul
(...)
Sempre em frente, nunca pra trás
Sempre em frente, nunca pra trás


cantado por Seu Jorge

MUDANÇAS



"Muda de Vida"

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar

Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens...que ser
assim?...

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar

Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser
assim?...

Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver

Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar


António Variações
Cantado por Manuela Azevedo in HUMANOS

terça-feira, 14 de novembro de 2006

"PUS A ALMA...."



Gosto especialmente desta música de Adelaide Ferreira (mais uma vez confesso que antes de mais me "apaixonei" pelo poema):

PUS A ALMA NOS TEUS DENTES

O meu corpo é um caminho
que só eu sei onde vai
na busca do teu carinho
ora balança, ora cai

Quando repousas as ancas
sobre a minha pele lisa
o suspiro que me arrancas
é a alma feita em brisa.
Não deixes que a noite escura
dê ao nosso amor um fim
porque me sinto mais pura
quando estás dentro de mim

O meu corpo é um caminho
que só eu sei onde vai
na busca do teu carinho
ora balança, ora cai

Fico ali adormecida
numa alegria tamanha
e volto outra vez à vida
porque a tua barba arranha.
Quando me beijas os seios
com os teus lábios frementes
vê os meus olhos - fechei-os,
pus a alma nos teus dentes

O meu corpo é um caminho
que só eu sei onde vai
na busca do teu carinho
ora balança, ora cai



Adelaide Ferreira
(Letra: Tiago Torres da Silva/ Música: Rui Veloso)

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Ecos


As minhas raízes secaram.
A minha cor perdeu-se.
Sou um emaranhado de ramos
que nada seguram.
À minha volta tudo é aridez...
Separei-me da vida
Embebi-me de ecos de memórias passadas.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Solidões


A solidão é a minha companhia.

Pretendida?

Confessso que a maioria das vezes sim...

Sou solitária por natureza
é um hábito enraizado em mim,
este de me fechar dentro de mim....
de me enrolar como um bichinho de conta,
de me esconder como a ostra protege a pérola.
Às vezes solto-me e confesso dores que ditas me parecem ridículas,
sofrimentos que nada são em comparação com a realidade do quotidiano.
Outras, sofro em silêncio com um sorriso nos lábios e uma lágrima no coração...
Mas dias há em que um gesto me enternece, uma voz me acalenta os sonhos,
Um carinho que me preenche o vazio dos dias.
Um olhar me ilumina a negritude e a pincela de cores vibrantes,
em que o susssurrar duma voz me embala, numa antiga música de ninar.
A esta melodia chamo esperança...
A esta esperança me agarro
para não enlouquecer...
Ou para soltar a minha voz que tanto silenciou.


terça-feira, 7 de novembro de 2006

Espelho de... Água

As águas negras do poço da minha vida
empurram-me para um fundo que não quero.
Esgatanho-me a tentar trepar pelas pedras lisas.
Em vão tento, mas sempre escorrego...
As águas espelham um passado que já foi
Um eu em que já não me reconheço...
Soluços estrangulam-me a voz,
Silenciando-me o grito.
Ninguém me escuta,
Só o murmurar do vento parece responder ao meu apelo
E aqui fico, presa ao quotidiano das palavras
aos gestos mecânicos do meu eu.
A ti, que me lês confesso-me:
Procuro a roldana do meu poço
Aquela que me tirará deste abismo,
Desta luta de gritos mudos,
De lágrimas amargas,
De sonhos adiados.
Será que podes ouvir o que não digo,
Mas que em vão medito....
O que grito emudecida pelas mordaças do desprezo dos outros
Quer o confesse ou o esconda.
E nas águas do poço espelha-se a minha dor
Os meus gestos cansados de lutar.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

"Hoje é o primeiro dia..."

Hoje adormeci embalada pela trovoada...
Sonhei que as amarras que me ligavam à tristeza
Explodiam e me libertavam....
Os gradeamentos que me cerceavam volatilizavam-se.
E, eu, voltava do fundo do abismo viva.
Cada lágrima que me escorria pelo rosto
Limpava meses de sofrimento....
E o farrapo em que me transformei
Transfigurava-se num novo ser,
Frágil, mas com coragem para lutar.
"E veio-me à memória uma frase batida:
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida..."

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Declaração

A partir de hoje vou tentar!
Vou esforçar-me para ver para além do cinzento,
Ver mais além das barreiras que me cercavam.
Libertar-me das amarrras psicológicas,
Permitir-me voltar a sonhar...
Abarcar o mundo numa só golfada!
Inspirar a vida que estagnei
e expira-la em contracções libertadoras.
Passo a passo, ir expulsando a dor,
Procurar o calor, saborear o momento
Renascer das cinzas
Reaprender a sorrir,
Olhar e ver as cores...
Embeber-me de maresia
Mergulhar na liberdade de voltar a ser.