domingo, 26 de novembro de 2006

Perdida dentro de mim



Ontem dei por mim perdida dentro de mim.
Enrolada na cama como um bichinho de conta.
Fitando o branco do armário à minha frente....
Nem sei contabilizar os minutos em que estive assim:
Alheia a tudo e todos,
Fechada dentro de mim,
Vogando num mar de pensamentos,
Que se alternavam aleatoriamente sem que eu tivesse
forças para inverter essa maré de recordações,
em que mergulhava, sufocando lentamente.
E ali estava eu, estática, sem forças paraa me mexer,
sem conseguir alterar o rumo dos pensamentos...
Imersa num mar de dor,
de raiva pelos enganos em que fui caíndo ao longo da vida,
de tristeza pelos erros que cometi,
de saudade dos amigos de quem me fui afastando...
Lembrei-me de familiares que há tanto partiram,
de episódios em que a injustiça venceu,
de sonhos que pereceram sem verem a cor dos dias...
Dei por mim perdida...
Tentei mexer-me e não podia,
as lágrimas rolavam-me pelo rosto
e nem as conseguia limpar.
Sentia tudo, mas o meu corpo
estava inerte, inútil, frágil.
E, em silêncio, reminescências de momentos passados,
embrulhavam-se nos actuais,
numa rede de teias, mentiras, falsidade, saudade e dor.
Sempre a dor, a dor de não ter sabido ver.
A dor de não ter percebido...
A dor de ter tentado não ver...
A dor de ter errado.
A dor de ter fingido que tudo estava bem...
A dor de esconder a dor que me consomia lentamente.
Momentaneamente a escuridão pegou-se à minha pele
como um manto, uma mortalha que me silenciava.
Foi aí que, da minha garganta soltou-se um gemido.
E lentamente recobrei a consciência do que me rodeava...
A cama, o armário branco, as faces húmidas,
o sal das lágrimas...
Fui voltando a mim, ao meu corpo que antes não sentia.
Ah, a sensação de regressar de uma viagem para além de mim,
para além da consciência, para além do peso dos membros,
para além do meu corpo.
A pouco e pouco voltei a ouvir os sons que me rodeavam,
o cheiro da minha pele
o calor da minha respiração...
Mexi um dedo,outro e mais outro...
Olhei espantada para as minhas mãos
Como se as visse pela primeira vez.
Como se nem as reconhecesse,
Numa sinestesia de sons, cores e movimentos
que me martelavam o cérebro, devolvendo-me ao momento presente.
A um presente de luta,
A um presente de revolta,
De volta à vida?

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